sexta-feira, outubro 15, 2004
Kerry Ganhou Campanha dos Debates
Por PEDRO RIBEIRO / Nova Iorque
PUBLICO
As regras do terceiro e último debate televisivo entre George W. Bush e John Kerry previam que se falasse apenas de temas "domésticos". Com efeito, os dois candidatos à presidência dos EUA revelaram visões claramente opostas num leque de questões económicas e sociais; mas tanto um como o outro regressaram frequentemente ao tema da guerra no Iraque.
A menos de três semanas das eleições de 2 de Novembro, a maior parte das sondagens mostra uma situação de "empate técnico" entre Bush e Kerry. A fase dos debates televisivos está concluída e eles terão sido mais proveitosos ao candidato democrata; no início do mês, Bush tinha uma vantagem de alguma dimensão nas sondagens, que entretanto diminuiu ou desapareceu.
O jornal da terra de Kerry, o "Boston Globe", escrevia ontem que os debates serviram ao democrata para se apresentar ao eleitorado e para criar uma imagem de estadista (que Bush, por definição, já tem). A imprensa americana reagiu cautelosamente ao debate de quarta-feira à noite no Arizona, com análises notando que ambos os candidatos marcaram pontos e fizeram passar as suas mensagens mais importantes.
As "sondagens instantâneas" deram vantagem a Kerry. Tanto num estudo da CBS News (39 por cento acharam que Kerry ganhou, 25 por cento deram a vitória a Bush) como noutro da CNN (52 por cento para Kerry, 39 por cento para Bush), o senador do Massachusetts aparecia como tendo a prestação mais eficaz; numa sondagem ABC News, os dois apareciam quase empatados (42-40). O efeito do terceiro debate na opinião dos eleitores só será realmente visível dentro de dias.
Muito do que Bush e Kerry tinham para dizer era repetido dos outros debates ou dos seus discursos de campanha. Contudo, a forma como ambos insistiram em falar sobre terrorismo e Iraque, num debate cuja agenda não incluía questões de política externa, é revelador do que será a mensagem dos dois candidatos até 2 de Novembro.
"Levámos justiça a um regime terrorista e a Saddam Hussein. Para garantir a segurança [dos EUA], temos de ter um plano abrangente. O meu adversário disse este fim-de-semana que o terrorismo pode ser reduzido a um incómodo, comparando-o à prostituição ou ao jogo ilegal. Acho esse ponto de vista perigoso", disse Bush.
O Presidente defendeu novamente a sua decisão de ir para a guerra no Iraque, e garantiu que a situação não vai exigir nenhum "serviço militar obrigatório encapotado". Bush gabou também o processo eleitoral no Afeganistão: "A primeira eleitora foi uma mulher de 19 anos. Pensem nisso. A liberdade está em curso."
Kerry garantiu que a forma como vai combater o terrorismo será decidida mas também "inteligente": "Vou caçá-los [aos terroristas], vou capturá-los, vou matá-los, vou fazer o que seja necessário para a segurança [dos EUA]. Mas prometo-vos isto, América: vou fazê-lo da mesma forma que Franklin Roosevelt, Ronald Reagan e John Kennedy o fizeram, construindo as alianças mais fortes, em que o mundo se une."
Embrulhados numa guerra de estatísticas
No resto do debate, Bush e Kerry atacaram-se mutuamente com argumentos que têm frequentemente repetido. Bush tirou a medida ao seu adversário: 98-127-277. Ou seja, 98 vezes que ele votou "votou contra a redução de impostos" no Senado, 127 vezes que "votou para subir os impostos" e 277 vezes que votou para "ignorar limites ao défice orçamental".
O Presidente repetiu por três vezes estes números, acusando Kerry de ser "irresponsável" em assuntos fiscais, e de ser tão à esquerda que era mais radical até que o outro senador do Massachusetts, Ted Kennedy (uma das grandes referências da esquerda americana).
Kerry também tinha os seus números - Bush é "o primeiro Presidente nos últimos 72 anos" cujo saldo no mercado do trabalho é negativo: perdeu "1,6 milhões de empregos" (no sector privado).
"Outros onze Presidentes - seis democratas, cinco republicanos - tiveram guerras, recessões, grandes dificuldades. Nenhum perdeu empregos como este." Kerry disse ainda que Bush falar de responsabilidade fiscal era como o mafioso da televisão Tony Soprano "falar em lei e ordem".
Bush pareceu mais à vontade a falar sobre educação e sobre temas de "moralidade" - a homossexualidade, o aborto, a fé religiosa. Como no segundo debate, Bush tornou-se mais descontraído com o passar do tempo, e disse até algumas piadas. Kerry, em todos os debates, pareceu calmo e controlado.
A imprensa americana foi quase unânime em considerar que os debates foram surpreendentemente vivos e esclarecedores. As diferenças entre o republicano e o democrata ficaram bem patentes, mas apesar disso ainda há eleitores indecisos. Será neles que os dois candidatos se vão concentrar nos próximos 17 dias. Na estrada, agora que a fase dos debates ficou para trás.

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As regras do terceiro e último debate televisivo entre George W. Bush e John Kerry previam que se falasse apenas de temas "domésticos". Com efeito, os dois candidatos à presidência dos EUA revelaram visões claramente opostas num leque de questões económicas e sociais; mas tanto um como o outro regressaram frequentemente ao tema da guerra no Iraque.
A menos de três semanas das eleições de 2 de Novembro, a maior parte das sondagens mostra uma situação de "empate técnico" entre Bush e Kerry. A fase dos debates televisivos está concluída e eles terão sido mais proveitosos ao candidato democrata; no início do mês, Bush tinha uma vantagem de alguma dimensão nas sondagens, que entretanto diminuiu ou desapareceu.
O jornal da terra de Kerry, o "Boston Globe", escrevia ontem que os debates serviram ao democrata para se apresentar ao eleitorado e para criar uma imagem de estadista (que Bush, por definição, já tem). A imprensa americana reagiu cautelosamente ao debate de quarta-feira à noite no Arizona, com análises notando que ambos os candidatos marcaram pontos e fizeram passar as suas mensagens mais importantes.
As "sondagens instantâneas" deram vantagem a Kerry. Tanto num estudo da CBS News (39 por cento acharam que Kerry ganhou, 25 por cento deram a vitória a Bush) como noutro da CNN (52 por cento para Kerry, 39 por cento para Bush), o senador do Massachusetts aparecia como tendo a prestação mais eficaz; numa sondagem ABC News, os dois apareciam quase empatados (42-40). O efeito do terceiro debate na opinião dos eleitores só será realmente visível dentro de dias.
Muito do que Bush e Kerry tinham para dizer era repetido dos outros debates ou dos seus discursos de campanha. Contudo, a forma como ambos insistiram em falar sobre terrorismo e Iraque, num debate cuja agenda não incluía questões de política externa, é revelador do que será a mensagem dos dois candidatos até 2 de Novembro.
"Levámos justiça a um regime terrorista e a Saddam Hussein. Para garantir a segurança [dos EUA], temos de ter um plano abrangente. O meu adversário disse este fim-de-semana que o terrorismo pode ser reduzido a um incómodo, comparando-o à prostituição ou ao jogo ilegal. Acho esse ponto de vista perigoso", disse Bush.
O Presidente defendeu novamente a sua decisão de ir para a guerra no Iraque, e garantiu que a situação não vai exigir nenhum "serviço militar obrigatório encapotado". Bush gabou também o processo eleitoral no Afeganistão: "A primeira eleitora foi uma mulher de 19 anos. Pensem nisso. A liberdade está em curso."
Kerry garantiu que a forma como vai combater o terrorismo será decidida mas também "inteligente": "Vou caçá-los [aos terroristas], vou capturá-los, vou matá-los, vou fazer o que seja necessário para a segurança [dos EUA]. Mas prometo-vos isto, América: vou fazê-lo da mesma forma que Franklin Roosevelt, Ronald Reagan e John Kennedy o fizeram, construindo as alianças mais fortes, em que o mundo se une."
Embrulhados numa guerra de estatísticas
No resto do debate, Bush e Kerry atacaram-se mutuamente com argumentos que têm frequentemente repetido. Bush tirou a medida ao seu adversário: 98-127-277. Ou seja, 98 vezes que ele votou "votou contra a redução de impostos" no Senado, 127 vezes que "votou para subir os impostos" e 277 vezes que votou para "ignorar limites ao défice orçamental".
O Presidente repetiu por três vezes estes números, acusando Kerry de ser "irresponsável" em assuntos fiscais, e de ser tão à esquerda que era mais radical até que o outro senador do Massachusetts, Ted Kennedy (uma das grandes referências da esquerda americana).
Kerry também tinha os seus números - Bush é "o primeiro Presidente nos últimos 72 anos" cujo saldo no mercado do trabalho é negativo: perdeu "1,6 milhões de empregos" (no sector privado).
"Outros onze Presidentes - seis democratas, cinco republicanos - tiveram guerras, recessões, grandes dificuldades. Nenhum perdeu empregos como este." Kerry disse ainda que Bush falar de responsabilidade fiscal era como o mafioso da televisão Tony Soprano "falar em lei e ordem".
Bush pareceu mais à vontade a falar sobre educação e sobre temas de "moralidade" - a homossexualidade, o aborto, a fé religiosa. Como no segundo debate, Bush tornou-se mais descontraído com o passar do tempo, e disse até algumas piadas. Kerry, em todos os debates, pareceu calmo e controlado.
A imprensa americana foi quase unânime em considerar que os debates foram surpreendentemente vivos e esclarecedores. As diferenças entre o republicano e o democrata ficaram bem patentes, mas apesar disso ainda há eleitores indecisos. Será neles que os dois candidatos se vão concentrar nos próximos 17 dias. Na estrada, agora que a fase dos debates ficou para trás.